terça-feira, 24 de julho de 2012

Célia Corsino fala sobre museus e patrimônio


No dia 11 de agosto, às 9h, a museóloga Célia Maria Corsino vai ministrar a palestra "Patrimônio Cultural Imaterial". Veja o que ela adiantou sobre o assunto.

 - Qual é a importância do debate proposto pelo 1º Fórum Nacional da Produção Cultural em Pequenos e Médios Municípios?

Muito grande, principalmente por mostrar para todos a força e importância do trabalho realizado nos pequenos e médios municípios. Este trabalho tem crescido muito, mas ainda não atinge todos e tem o mérito de atingir, proporcionalmente, mais pessoas que nas grandes cidades.

- A falta de profissionais do setor de museus, ou mesmo a inexistência de técnicos de nível médio capacitados para o exercício das atividades, podem explicar a inexistência desses espaços em muitos dos municípios brasileiros do interior? Como superar essa situação?

Sem dúvida a falta de técnicos é um limitador, mas só este fator não pode explicar a inexistência de museus. Em toda cidade tem grupos e pessoas que se interessam pela história da cidade e seu patrimônio. Pode-se iniciar um trabalho de identificação do patrimônio e das referências culturais, que depois estariam em um museu com alunos. O estado de Minas Gerais tem muitas ações neste sentido. Lá, o que impulsiona é a distribuição do ICMS, chamada "Lei Robin Hood". Tem dado certo, mas é um trabalho de mais de 15 anos. Uma vez identificado o patrimônio, o passo seguinte, quase naturalmente, é a instalação de pequenos museus municipais.


- Considerando que, no interior do país, pequenos e médios municípios tem sua economia apoiada, basicamente, na agricultura e pecuária, como você vê a preservação do universo cultural dessas comunidades?

A preservação será realizada por meio de inventários e museus de sítio ou território onde os objetos, testemunhos e as referências culturais desta sociedade rural e agrária  estarão disponíveis para o público. Sabemos que MUSEUS ainda não são considerados importantes e prioritários nestas comunidades, mas se estiverem alicerçados em um programa consistente de educação patrimonial a ser desenvolvido pelos jovens, com certeza terão uma vida maior.

 - Em relação às cidades litorâneas, o interior do país é muito jovem. Em que medida essa “juventude” dificulta a preservação do patrimônio dessas localidades? Como incutir na população a necessidade de preservar o registro do tempo nesses locais?

Cidade de Goiás
Trata-se da discussão sobre os tempos que, com as novas tecnologias, está ultrapassada. Veja: no século XIX, para buscar como exemplo a arquitetura, uma tendência levava de 30 a 50 anos para chegar ao interior de Goiás. No século X, até os anos 40 levava-se uma década. Não foi à toa que Pedro Ludovico, em nome da modernidade, abandona a antiga capital – cidade de Goiás – e cria  Goiânia, cidade planejada e moderna, conectada no tempo das artes do "art deco". Hoje as noticias e as tendências chegam em segundos pelas redes sociais e de noticias.
Goiânia
Ser jovem em função da ocupação, como é o caso do noroeste do Paraná, não justifica a falta de preservação do patrimônio, pois a noção de patrimônio mudou muito e não comporta somente as coisas “antigas”, e sim os modos de ser e de viver do povo brasileiro.  Vejam no artigo 216 da Constituição Federal que a noção e conceito de patrimônio ampliaram muito. Ao contrário do que se imaginava no inicio da chamada globalização, muitas comunidades iniciaram um movimento de valorização e descoberta de suas raízes como meio de se destacar e identificar de forma própria. O respeito à diversidade cultural hoje está presente sempre no discurso e nas ações de preservação e difusão culturais.

- Na sua opinião, quais perspectivas os produtores e instituições culturais dos pequenos municípios, considerando a realidade atual de financiamento da cultura, têm para viabilizar suas atividades?

Na verdade, este é um problema ainda sem solução. As perspectivas podem ser melhores do que a realidade, mas a política de mecenato ainda está voltada para os grandes centros. Talvez o apoio local, bem estruturado e em cooperativas seja uma solução. Existe um nicho ainda pouco explorado pelos produtores e captadores para o financiamento de projetos, são as pessoas físicas que também pagam imposto. Com a criação de empregos e novas pequenas empresas, que saem da informalidade, poder-se-ia incrementar campanhas neste sentido, mas um problema são os incentivos concorrentes. Muitas vezes uma indústria se instala no interior já com incentivos e não tem margem para aplicar no apoio a projetos culturais. Outro problema que, creio, dificulta é o custo muito alto de todas as atividades em comparação com outros países, o que eleva os valores dos projetos.

- Considerando o modelo da Lei Rouanet, quais medidas poderiam ser tomadas como indutoras para que os grandes patrocinadores nacionais – principalmente as estatais – busquem apoiar iniciativas em museus de pequenos municípios? Seriam necessários editais direcionados a esse público?

Acredito nos editais.

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